Talvez feito maior de humano ser, é livro-livre ser, de páginas muitas folheadas, onde nós cada uma delas, prontos a relembrar quem por algum motivo por nosso enredo passou.
O senhor José como que nos continua a folhear, de onde agora nos lê. Sabe que a cada entrada na sua livraria é como que um retirar da estante e imediata leitura da nossa infância, da nossa juventude, onde estantes graúdas de então nos olhavam, sabendo lá elas que homens e mulheres nos faríamos, e as veríamos sempre a cada entrada na livraria e na memória onde habita esse nosso concretizar.
Orgulho dele em ver esses graúdos-sempre-meninos, que alimentaram os sonhos, recebendo-os como se ainda capazes de passar por baixo dos obstáculos de um teto próximo, mas que ainda muito distante da cabeça onde a imaginação e a liberdade se aliavam à vida.
Ali, onde os livros reinavam. Ali, onde sentados no chão, folheando os livros, visão tínhamos sobre o senhor José. Atrás de um balcão, como que muro de reinado seu, unindo as suas mãos, como se captando frio ar, e ali o aconchegasse para o devolver à atmosfera envolvente, com a intensidade com que tratava os seus. Como que labuta para facilitar a absorção do que somente os livros nos podem dar. Ou talvez simples gesto, parte sua, mas sem significado de maior, para lá do viver e os seus amar, desenhando um sorriso e atribuindo parcas palavras que outras pediam.
Entrar na livraria, agora entregue a gerações várias, de tecido afetivo o mesmo, que multiplicam o olhar e a dedicação do seu patrono, é relembrá-lo, mas também avivar a nossa memória da meninice e saber que a queremos por perto. Pois lá, de alguma forma, justificação desnecessária, felizes fomos. E por o termos sido, somos.
E isso, também o devemos ao significado que atribuímos ao senhor José da Livraria, inscrito num dicionário que truncado sempre o manteremos. As emoções assim o requerem.
José Gonçalves